quarta-feira, 17 de agosto de 2011

GNT. Doc: Loucas por Gatos


Já faz algum tempo que não posto nada por aqui, muita coisa aconteceu nos últimos meses. Perdi mais uma gatinha, desta vez foi a Juju que se foi, em uma experiência traumática que me dá até arrepios de lembrar.:-( Ela infartou nos meus pés! Tentei fazer os procedimentos básicos de primeiros socorros, mas nada poderia ter salvado sua vida. Ela sofria de uma doença cardíaca congênita, não tinha sintomas, e só com a necropsia que pude ter o diagnóstico.

Além disso, inauguramos semana passada a loja virtual da Gatolândia CatShop (www.gatolandiacatshop.com.br). O trabalho para criar uma loja virtual é gigante! Confesso que não tinha noção do quanto de tempo e esforço esse novo projeto nos tomaria.

Enfim, explicações à parte sobre o meu sumiço... Acabei de assistir um documentário exibido pelo canal GNT chamado Loucas por gatos. A idéia do documentário, em um primeiro momento, me pareceu extremamente interessante, porém ao entrar no site da emissora e ver a quantidade de críticas postadas, fiquei com um pé atrás, e uma curiosidade ainda maior de ver o tal doc.

Estou realmente indignada com o que vi! Neste documentário se fortalece o estereótipo da "crazy cat lady", ou seja, da mulher solteirona, mal resolvida que acumula gatos desenfreadamente, que vive em um muquifo fedido a mijo de gato e em profundo isolamento social. Pra completar o show de horrores, um policial responsável pelo resgate de animais para a sociedade protetora dos animais de Toronto larga pérolas do tipo: "Gatos ariscos não tem a capacidade de se adaptar em um ambiente doméstico e é cruel tirá-los das ruas" ou então "quem não é veterinário ou não tem acessoria constante de um não deve resgatar muitos animais das ruas".

É fato que muitas pessoas que se dedicam a resgatar animais de rua, sejam eles cães ou gatos o fazem de modo desenfreado e inconsequente, muitas vezes movidas por algum transtorno psiquiátrico, do mesmo modo que existem pessoas que manifestam esses problemas de outras formas. Acredito que a sociedade ainda não se libertou do estigma de 'gato o animal das bruxas' e os veja com um desdém descabido, capaz de contaminar todos os que se aproximam. Fico pensando por que não fazem documentários mostrando a insanidade de pessoas que adotam 10 ou 20 crianças ou que dedicam seu tempo livre pra cuidar de centenas de idosos?? Por que aqueles que se dedicam a ajudar animais são sempre vistos como párias, enquanto aqueles que se dedicam a ajudar seres humanos tornam-se verdadeiras Madres Teresas??
O comportamento lógico não seria o de elogiar e reconhecer todos aqueles que fazem sua parte para melhorar o mundo? Pra mim é realmente irrelevante se você ajuda uma criança, um cão, um gato, uma árvore ou tartarugas marinhas. As pessoas tem que ter a liberdade para se identificar com a causa que bem entenderem!

Certamente, seguindo a minha linha de raciocínio, muitos devem se perguntar onde está o limite, porque às vezes com boa intenção pode-se causar um grande estrago. E eu concordo plenamente com isso. Sair feito louca caçando gatos nas ruas para "salvá-los" não é a solução para os gatos, muito menos para a pessoa. Mais uma vez é preciso bom senso. E pra mim bom senso não está necessariamente no número de animais, mas nas condições fornecidas para estes e para o(s) humano(s) envolvidos.
Acho que o documentário não foi capaz de mostrar isso, colocando pessoas que amam e tem muitos gatos na mesma condição de colecionadores de animais. Você pode perfeitamente ter 100 gatos e ter uma vida afetiva e social agitada, se você contar com uma rede de apoio, ou seja, se tiver uma catsitter de confiança poderá viajar. Ter muitos gatos não é sentença de morte para a vida social. Do mesmo modo, prevalece o bom senso no que diz respeito a higiene e odores. A casa precisa ser adaptada para ter tantos gatos e se manter fora de um nivel de insalubridade. Tapetes, cortininhas e babadinhos não combinam com uma casa cheia de gatos. Produtos de ação enzimática, vendidos em petshops, eliminam o odor da urina e não apenas mascaram com desinfetantes comuns. Quem tem muitos gatos precisa saber que deve ter estrutura para fazer casa de passagem para outros gatos, e com isso quero dizer que é necessário ter uma área de isolamento adequada. Do contrário viroses respiratórias e parasitoses começarão a fazer a festa e a qualidade e quantidade de vida dos "gatos donos da casa" começará a cair, enquanto os gastos com medicamentos e veterinários aumentará absurdamente.

Acho que muita gente nos vê como pobre coitados(as), seres bizarros, incapazes de se relacionar socialmente e que vê nos gatos a sua redenção. Mesmo com 24 gatos, eu fiz uma faculdade de medicina veterinária, tive 2 casamentos, viajo cerca de 1 vez por ano, tenho amigos, com os quais me reuno semanalmente, e há 5 meses trabalho administrando e prestando atendimento veterinário na Gatolândia CatShop. Não tive filhos e não sou mais casada por opção, que nada tem a ver com o fato de ter ou deixar de ter gatos. Fico torcendo para que novos documentários abordem o assunto de modo mais positivo e imparcial, capaz de apontar com seriedade casos de colecionadores de animais, problema grave, que infelizmente não faz parte da pauta de políticas de saúde da maioria dos governos , diferenciando-os daquelas pessoas que optaram por ter uma vida "de alta qualidade felina". ;-)